terça-feira, 8 de julho de 2008

Dia de concurso

Seis e dez da manhã. Toca o irritante alarme do celular. Seria muito melhor se saísse uma garota linda de dentro do celular e te acordasse com um beijinho. Bom, fazer o quê? Banho, barba, café, misto quente e rua.

Nas ruas, movimento total. Parece até que vai ter final de Copa do Mundo, entre Brasil e Argentina. Carro pra lá, táxi pra cá, pés correndo, todos com pressa e inquietos, claro.

Iria fazer a prova no Colégio Sigma, lugar razoavelmente tranqüilo para estacionar (se você é uma formiga e está dirigindo uma folha). Ruas engarrafadas, estacionamentos lotados, pra melhorar, olho para o relógio e restam vinte minutos para os portões fecharem. Começo a ficar ansioso.

Tchan, tchan, tchan, tchan! Terra à vista, literalmente. Pronto, estacionei no poeirão. Deve ser o espírito rallyzeiro que tenho dentro de mim. Não posso ver uma “laminha” que já quero me sujar. Churrasquinho de terra é ótimo para o organismo (meus amigos vão entender).

Entro na sala e adivinhem? Nunca vi tantos nomes bonitos reunidos numa sala tão pequena, devia ter uns 50 Marcelos só na minha sala. Sempre tive vontade de gritar nessas provas: Ô Marcelo! Todo mundo iria olhar com cara de tacho.

O curioso é que, embora a sala esteja cheia, ninguém está a fim de conversa. Todos são concorrentes, inimigos, atrás da tão sonhada vaga no serviço público. Só é possível escutar as cadeiras e carteiras arranhando o chão, a tosse de alguém que está resfriado ou até mesmo o balançar incessante do pé do nervoso concorrente ao seu lado.

Toca o sinal de início. Cinco horas de prova, 150 itens de V ou F e uma redação de até 30 linhas de sobremesa. Tem programão melhor para um domingo de sol de manhã? Não responda.

O cara que estava sentado a minha frente pediu para mudar de lugar. Disse que estava incomodado com o barulho de papel que vinha da minha direção, como se eu estivesse abrindo uma barra de cereal. Acontece que o único papel que tinha na minha mesa era a prova, e ela estava quietinha. Cada Marcelo com suas loucuras.

Após algum tempo, depois de beber uns dois litros de água (fazer prova dá sede), peço para ir ao banheiro. E solto para a simpática fiscal de prova Juliana:

— Deve ser um recorde, né?!? Terceira vez que vou ao banheiro.
— Que nada, tem um carinha que já foi bastante também.

Senti um clima de competição pairando no ar, até na quantidade de idas ao banheiro. Por precaução, fui mais duas vezes. Entreguei a prova após 4 horas e 45 minutos, para sair com o caderno de prova. Já estava com saudade do poeirão.