domingo, 25 de janeiro de 2009

Blecaute


Ipanema, quase dezenove horas. Estava na Visconde de Pirajá com o André, voltando pra casa quando aconteceu o blecaute. O bairro de Ipanema estava às escuras. Só era possível enxergar os faróis dos carros, motos e ônibus, e o chinelo branco do André!

Tinha que passar na padaria, ainda, a pedido das minhas tias para comprar pão e presunto pro lanche. Nunca tinha visto uma padaria tão romântica. À luz de velas, parecia até Dia dos Namorados. Só faltava o Kenny G tocando saxofone pro cenário ficar completo.

- Duzentos gramas de presunto, por favor.

O cara deve ter pensado: eu tenho cara de balança ambulante movida a pilha?

Pra minha sorte, ou não, outro atendente já tinha cortado fatias de presunto e sabia mais ou menos o preço. Sei lá há quanto tempo esse presunto estava lá. Já estava com uma coloração esverdeada. Fazer o quê, a fome é o melhor tempero! Levei o verdinho e seis pães.

Antes de irmos pra casa, resolvemos tomar um chope. Eu tinha esperança que a luz iria voltar em pouco tempo. Afinal, eram 14 andares até o apartamento.

De novo, a minha lerdeza prevaleceu.

- Dois chopes, no capricho! – disse, fazendo aquele sinal que você faz um círculo com o polegar e o indicador (capricho, não acredito que falei isso!).

A máquina de chope não estava funcionando por falta de energia. Nessas horas percebemos como somos escravos da eletricidade.

- Traz cerveja, então!

Um trio de gringas estava sentada do nosso lado. Deu 5 minutos e o André deu com a língua nos dentes. Elas eram da Irlanda e estavam adorando o Brasil, mas já estavam pedindo a conta. Como prefiro morenas, fiquei na minha.

Em outra mesa, dois homens estavam rindo da situação. Bêbado ri de qualquer coisa. Descobrimos que eles eram de Brasília também. A conversa parecia normal, até a hora que um deles disse que se chamava Johnson (o cara era uma mistura de Bob Marley com Predador, mas fiquei imaginando aqueles bebês da propaganda do Johnson’s Baby).

Enfim, terminamos a segunda cerveja. Já havia passado uma hora e nada da luz voltar. André pegou o ônibus pra Botafogo, enquanto 12.523 degraus me esperavam, no escuro!

Imaginei nessa hora quantas pessoas ficaram presas no elevador. O que às vezes pode ser até bom. Não ia ser de todo mal você ficar preso com aquela vizinha gostosa que anda sempre de shortinho e você sempre quis ficar com ela. Por outro lado, imagina se está tendo reforma no prédio e você tá descendo com todos os pedreiros no elevador, depois de um dia “suado” de trabalho.

Pensando bem, os milhões de degraus me pareciam ótimos! Mas eles não acabavam... No começo, com a ajuda da luz do celular, eu tava até animado. Mas depois do sétimo andar, a brincadeira perde a graça. Parecia que eu tava escalando o Monte Everest. Parava pra respirar a cada 20 degraus. Por sorte eu sempre carrego um tubo de oxigênio comigo (tá, isso é mentira!).

Depois de 29 minutos, cheguei no 14º andar! E a luz só voltou duas horas depois! Quem ficou preso com a vizinha se deu bem; com os pedreiros, nem tanto.