sexta-feira, 24 de abril de 2009

Miss Simpatia

Era mais uma manhã de sol no Rio e eu estava indo pra praia com o André.

Enquanto isso, no prédio vizinho uma mulher tentava estacionar um Fox novinho, não tinha nem placa.

Ficamos olhando fixamente para o carro, enquanto passávamos, pois estava prestes a bater em uma árvore da calçada. Ainda arranhou a marcha, numa tentativa infeliz de engatá-la. Pensei: vai bater! Eis que surge a tenebrosa voz de dentro do carro:

- Que que foi? Tá olhando o quê? Não entendi!
- Que que foi o quê? Tá louca?! – disse com o calmo tom de descendente de italiano, enquanto o André, mudo, pensava: não entendeu o quê, que você vai bater na árvore ou que você é barbeira?

Seguimos pra praia rindo da motorista insana. Sol aqui, banho de mar ali, cerveja acolá. Quanto voltamos, lá estava a Bruxa do 71 plantada em pé na frente do prédio, resmungando (pra variar). De cada dez palavras que a velha soltava, onze eram palavrões. Antes de entrar no prédio vi um guincho na frente do prédio. Falei com um leve sorriso na boca:

- O guincho deve ter vindo pegar o carro batido.

Quando descemos, o Fox da Mãe Diná já estava em cima do guincho, pra alegria da população carioca. Não aguentei de tanta tristeza. Segundos depois, descobri que a Dercy Gonçalves era famosa por sua rara simpatia. Uma mulher do outro lado da rua falava com outra pessoa:

- Aquela velha chata acabou de bater o carro novinho.
- Chata mesmo! – falei alto, não resistindo à oportunidade.

Agora, toda vez que olho pra árvore, lembro da frase da Miss Simpatia como uma relaxante música para os ouvidos.