sábado, 27 de setembro de 2008

Trilhas

- Vamos fazer uma trilha, pegar uma cachoeira?
- Só se for agora!

Na hora todo mundo anima, mas na hora de ir mesmo, poucos vão. Desculpas não faltam. Ressaca, sono, frio, nublado, longe, pra que ir se posso ficar aqui dormindo (a mais usada).

Mas o Marconi tinha confirmado. Marconi é aquele amigo que enfrenta qualquer coisa.

- Vamos pro Afeganistão brincar de soldado?
- Tô acabando de fazer a mala, você viu minha escova de dente?

Então pegamos meu carro, um Celta, e fomos pra Cristalina/GO, atrás da Serra dos Topázios. Sempre tinha vontade de ir lá, pois dizem que o lugar é lindo. Após 100 km de estrada e com o mapinha na mão (quanta tecnologia, não?), começam as perguntas aos nativos.

- Você sabe onde fica a Serra dos Topázios?
- Serra dos o quê???
- Nada não.

Eu sempre me indignei com isso. Como a pessoa mora num lugar turístico e não sabe onde ficam as atrações. Um dia criarei um Centro de Treinamento de Apoio Turístico – CTAT (parece até nome de força-tarefa antiterrorista).

Depois de muitas informações, uma mais diferente que a outra: depois de dois galpões vira à esquerda; passa três quebra-molas e vira pra direita na estrada de terra. Para a Polícia Rodoviária a gente devia entrar 500 metros antes do posto, à direita na estrada de terra.

Não teve jeito. Tentamos todas as alternativas. Achamos até uma cachoeira, só que não era a Serra dos Topázios. A última alternativa foi a sugerida pela Polícia Rodoviária. Disseram que não tinha erro. São uns 5 km de estrada de terra e vocês chegam lá.

Lá fomos nós, cortando mato com o Celtinha. O rastro da estrada de chão começava a desaparecer no quarto quilômetro. Já tem mais mato do que estrada, mas continuo assim mesmo. Estava me sentindo em um safári na África.

Quando de repente:

- Shiiiiiichh!
- Puta merda, atolou!

Não, não era o funk! O carro tinha atolado num lamaçal da estrada. Era outubro e tinha chovido há alguns dias. O carro não saía de lá por nada. Nem com pedra, madeira, empurrão ou sopro.

Celular fora da área de serviço. Água estava acabando. Comida quente e acabando também. A água do radiador começava a ficar atraente àquela altura.

O jeito era voltar andando até o posto policial pra pedir ajuda. Mais de 4 km andando, num sol escaldante. A gente andava, andava, andava e o cenário nunca mudava. Nada pra lá, nada pra cá, só capim e mato.

Como bem disse o Marconi, a gente tava se sentindo o próprio bóia-fria. Sujos de lama, com sede, andando num sol escaldante de duas horas da tarde e, pra melhorar, sem água. Quando avistamos um cocho (lugar onde gado toma água), não tive dúvida em beber a água que tava pingando da mangueirinha.

Enfim chegamos ao posto policial. Liguei para o seguro, que foi resgatar meu carro atolado no meio do nada. Se a Serra dos Topázios é realmente linda? Só saberei quando comprar um jipe, pra não ter o perigo de atolar de novo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Dona Gertrudes


Gertrudes era mulher atarefada. Quando não estava resolvendo o problema dos outros, estava entretida com as atividades do lar.

- Amééélia, já tomou café da manhã? Você tem que ir pra escola!
- Ham?! Ainda não, mãe.
- Coma logo esse pão com mortadela.
- Mas eu não gosto.
- Prefere comer o sanduíche de queijo com pasta de jiló do seu Zé?
- Nossa, tá uma delícia! É mortadela importada?


Com o maridão a conversa não era muito diferente.

- Vágner, acho que está na hora de você cortar o cabelo, hein?
- Ah amor, é tanto trabalho no escritório que nem me lembro de cabelo.
- Sei! Mas de tomar o chopinho com os amigos no final do expediente você lembra, né?
- Aliás, você tá precisando perder essa barriguinha saliente, hein?! – diz Gertrudes, apontando para o inchaço abdominal do marido.

Hora do almoço (momento psicóloga)

- Zulmira, já cozinhou o feijão?
- Tá cozinhando dona Gertrudes, com toucinho de porco, do jeito que a senhora gosta.
- Hum! Zulmira, tô sentindo você meio tristinha. Aconteceu alguma coisa?
- Nada demais, meu marido caiu do 37º andar limpando a janela de um prediozão. Caiu em cima da minha filha que estava indo almoçar. Os dois morreram!
- Ah tá, toma maracujina que melhora!

Pelo período vespertino

- Tchau mãe, vou pra natação.
- Filho, já passou protetor solar?
- Ainda não mãe, passo lá.
- Conheço essa conversa. Tira a camisa pra eu passar em você.
- Relaxa mãe...
- Não discuta, câncer de pele é muito perigoso.

Dez horas da noite

- Amor, cheguei!
- Tava até agora no escritório, meu bem? – diz a esposa, segurando um rolo de macarrão na mão.
- Deu problema com um cliente, o chefe tava viajando, a luz acabou quando tava descendo de elevador. Foi uma correria só!
- Sei...
- Mas não vamos falar sobre isso. O que você acha de abrirmos um vinho e...
- Ah nem amor, tô cansada e com dor de cabeça. Amélia não queria tomar café da manhã, Zulmira perdeu o marido e a filha, o Breno não queria passar protetor. Cuidar da casa também cansa, viu?