quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Uma boa ideia

Férias de janeiro em Cancún, parecia uma boa ideia. E pro México fui com minha família, fazer programa típico de turista. Sempre achei horrível fazer programa de turista. Por mim ficava na praia, com aquela água azul transparente, que mais parece um Curaçau Blue, bebendo tequila até virar mexicano nativo ou um pirata do Caribe.


Mas não neste dia. Fomos visitar a cidade antiga de Chichén Itzá, da antiga civilização maia, que, aliás, eram excelentes construtores e matemáticos. Uma de suas belas construções é a pirâmide de Kukulcán.


Após 7 horas, 14 minutos e 38 segundos, consegui chegar ao topo da pirâmide. Paisagem maravilhosa, mas só de pensar nos milhares de degraus abaixo, tirei o sorriso do rosto. E não eram simples degraus, eram "grandaus" (eles eram enormes!). Queria ser uma bola de pilates nessa hora.


Descida completa, sempre parando pra recuperar o fôlego. Mas a expedição ainda não tinha acabado. Havia uma entrada por dentro da pirâmide e, ao lado uma placa que advertia, em espanhol e em inglês, que pessoas com problemas cardíacos, respiratório, circulatório, pressão alta... deveriam evitar a entrada.


Tenho minhas crises de asma, uma vez ou outra, mas depois de subir a pirâmide estava me sentindo o Harrison Ford em Indiana Jones. Nada me pararia agora! Nem mesmo um beijo da mulher do Planeta dos Macacos.


Minha irmã, Patrícia, entrou comigo, enquanto minha mãe e avó esperavam tranquilas ao ar livre.


Túnel apertado, paredes úmidas, cheiro de cecê de múmia, pouca iluminação e, à medida que eu adentrava la piramide o ar ficava mais rarefeito (parece que estão comprimindo seus pulmões). Tem que respirar profundamente para o ar chegar aos pulmões e manter o organismo funcionando normalmente.


Pra melhorar, existia uma escada que apontava pro cume da maldita, em um corredor ainda mais apertado (degraus externos gigantes, túnel interno minúsculo, ô povo estranho!). Era como se o corredor fosse individual, pois da metade pra esquerda, o povo descia; na outra, subia.


Comecei a peregrinação. Fila indiana, parede úmida, ar rarefeito, falta de ar. Nunca tinha passado por situação parecida. A não ser uma vez em Brasília, no Parque de Diversões Nicolândia (Parque da Cidade), ao ver os parafusos soltando, enquanto passeava pela montanha-russa.


Assim que terminei a subida, avistei duas esculturas estranhas e tentei tirar uma foto (os órgãos já estavam falhando) e já comecei a descida em alta velocidade, atropelando os gringos que apareciam na minha frente. Acho que até fiz uma terceira fila. Eu estava parecendo um espermatozóide, que não consegue penetrar no óvulo, segundos antes de morrer.


Quando, enfim, ar puro! Nos filmes não vemos o ator e a linda e suada atriz, normalmente com uma regatinha branca ou marrom aparecendo o decote, passarem mal quando entram em uma caverna ou tumba.


Eu podia ter ficado na praia, olhando para o mar azul transparente e tomando tequila até virar mexicano. Parecia uma boa ideia.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mar de gente

Mais de 400 salvamentos nas praias fluminenses nesta sexta-feira, dizia o noticiário. Certamente o mar não estava pra peixe. Em Ipanema, a menor onda tinha 2 metros. Pensei até em montar, ali na hora, uma escolinha de como pegar jacaré sem levar caixote. Iria ficar rico em um dia!

Por causa do feriado, sexta-feira da paixão, e do sol, a praia estava lotada. Estava muito quente e estávamos dispostos a começar o dia saudavelmente. Em outras palavras, sem álcool. Pedimos um Guaraplus pro Luís, que já queria empurrar uma Itaipava gelada (não que isso seja ruim, mas é porque não estava descendo).

A luta durou pouco. Matamos em 1 minuto o Guaraplus e já estávamos com sede (nós, mortais brasileiros, apelidamos este evento de “ressaca”). Levantei com firmeza da cadeira de sol com o objetivo de pegar uma garrafa d’água. O André fez o sinal positivo, indicando a coisa certa a fazer.

Caminhei durante inacabáveis segundos na areia quente, com aquela lua de trinta e tantos graus sorrindo pra mim.

- E aí, Marcelo, duas Itaipavas? – o Luís perguntou com aquele sorriso contagiante.
- Ah, quer saber, tá no inferno abraça o capeta. Duas geladas e uma água (a parte saudável ainda resistindo).

Tava tão quente o dia, que se caísse caroço de milho na areia, saía pipoca. A cerveja desceu que nem água. Parecia até propaganda de cerveja (ainda mais com o modelo aqui).

Uma, duas, três, quatro. Na praia parece que demora mais tempo pra ficar bêbado. Deve ser a transpiração. Enfim, uma hora a natureza chama para o maior banheiro público do mundo. Macaco velho vai até cobrir a cintura de água, disfarça e faz ali mesmo. Quando você vê um homem no mar, com a água até a cintura, olhando pro horizonte, não tenha dúvida: ele está fazendo. Às vezes a onda volta e a água fica na canela. O segredo é não se intimidar e continuar o processo sem timidez. Tá tudo molhado mesmo. Só não pode esquecer de iniciar o processo só após submersão total da cintura.

Os mais bebuns avançam no mar, furam onda, comem areia, rolam que nem um urso tailandês recém-nascido. Depois não conseguem voltar para a areia. E lá vem o helicóptero de resgate dos bombeiros, pescar com uma rede os pobres coitados. Confesso que sempre quis ser resgatado pela “redinha”. Maior micão, mas a vida não deve ser levada tão a sério mesmo. Ou melhor, maior peixão!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Miss Simpatia

Era mais uma manhã de sol no Rio e eu estava indo pra praia com o André.

Enquanto isso, no prédio vizinho uma mulher tentava estacionar um Fox novinho, não tinha nem placa.

Ficamos olhando fixamente para o carro, enquanto passávamos, pois estava prestes a bater em uma árvore da calçada. Ainda arranhou a marcha, numa tentativa infeliz de engatá-la. Pensei: vai bater! Eis que surge a tenebrosa voz de dentro do carro:

- Que que foi? Tá olhando o quê? Não entendi!
- Que que foi o quê? Tá louca?! – disse com o calmo tom de descendente de italiano, enquanto o André, mudo, pensava: não entendeu o quê, que você vai bater na árvore ou que você é barbeira?

Seguimos pra praia rindo da motorista insana. Sol aqui, banho de mar ali, cerveja acolá. Quanto voltamos, lá estava a Bruxa do 71 plantada em pé na frente do prédio, resmungando (pra variar). De cada dez palavras que a velha soltava, onze eram palavrões. Antes de entrar no prédio vi um guincho na frente do prédio. Falei com um leve sorriso na boca:

- O guincho deve ter vindo pegar o carro batido.

Quando descemos, o Fox da Mãe Diná já estava em cima do guincho, pra alegria da população carioca. Não aguentei de tanta tristeza. Segundos depois, descobri que a Dercy Gonçalves era famosa por sua rara simpatia. Uma mulher do outro lado da rua falava com outra pessoa:

- Aquela velha chata acabou de bater o carro novinho.
- Chata mesmo! – falei alto, não resistindo à oportunidade.

Agora, toda vez que olho pra árvore, lembro da frase da Miss Simpatia como uma relaxante música para os ouvidos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Biblioteca


Já fiz muitos planos na vida, mas em nenhum deles estava em uma biblioteca, estudando oito horas por dia. Pelo contrário, geralmente tem praia, sol, comida, sempre com uma deusa te beijando. Doce ilusão! Voltemos à realidade.


Cadeira dura de madeira, banheiro insalubre, marca-texto, apostilas, livros, leis, barra de cereal, garrafa d’água, Guara Viton e mochila (pra carregar tudo isso).


Os pensamentos que surgem quando se senta para estudar são os mais inúteis: o que vou almoçar; tenho que levar o carro pra revisão; quando irei na loja trocar aquela roupa que não gostei; nossa, que perna cabeluda, preciso me depilar (essa é pras mulheres!). Pros mais boêmios: o que vou fazer no fim de semana (isso na segunda-feira), ou, ainda, pros alcoólatras: preciso ir ao lançamento daquela nova cerveja naquele bar novo, na quarta-feira às nove da manhã.


Não podemos esquecer do fenômeno “Bela Adormecida”. Você pode ter acabado de acordar, daquela noite bem dormida, mas, uma vez sentado na cadeira, o sonífero é injetado. Existe até uma resistência, você esfrega os olhos, lê o mesmo parágrafo dezessete vezes, até a hora que você se entrega ao momento e cochila como uma lhama. ATENÇÃO: Nesta hora é preciso ter cuidado para não babar e manchar as anotações.


Profissão estudante. Jornada diária de oito horas, com intervalo para almoço, não remunerada. Uma das mais árduas profissões, só perde pra faxineiro da rodoviária de Brasília e kamikaze oriental.


Todo dia as mesmas pessoas, cada um com suas manias. Tem aqueles que chegam da academia, outros vêm depois. Tem uns que sempre chegam com cara de sono (efeito “Bela Adormecida” prolongado). Há, também, aqueles que parecem que moram na biblioteca. Toda vez que chego, a pessoa já tá pegando no batente, e quando saio, ainda está no mesmo compasso.


Tem quem lancha quase sempre no mesmo horário. Outros nem lancham, às vezes nem bebem água. Sinceramente, não sei como! Minha cabeça começa a doer se fico mais de 3 horas sem comer e eu bebo água que nem um camelo. Fico imaginando o tamanho do prato dessas pessoas na hora do almoço (outro pensamento inútil).


Outro dia vi uma garota com um livro de Química 3, logo deduz-se que é do 3º ano ou é doida (pra estudar Química, sem mais nem menos). Estudou umas duas horas. Ela chegou junto comigo. Eu, de havaianas brancas, bermuda verde e camiseta branca (quase um piscineiro, só falta a peneira). Ela de tênis, saia e pólo de tenista e, por que não, uma raquete de tênis. Sempre gostei de mulheres com roupa de tenista, fica sexy.


Raras as vezes que eu ficava estudando por duas horas, ainda mais em biblioteca. Só em véspera de prova, claro! As tentações eram grandes, e o pior, é que agora aumentaram.


A única coisa que tenho certeza é que pessoas com essa atitude estão no caminho certo. Ou não! Como dizem os concurseiros: quanto mais estudo, mais tenho certeza que preciso estudar mais.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Blecaute


Ipanema, quase dezenove horas. Estava na Visconde de Pirajá com o André, voltando pra casa quando aconteceu o blecaute. O bairro de Ipanema estava às escuras. Só era possível enxergar os faróis dos carros, motos e ônibus, e o chinelo branco do André!

Tinha que passar na padaria, ainda, a pedido das minhas tias para comprar pão e presunto pro lanche. Nunca tinha visto uma padaria tão romântica. À luz de velas, parecia até Dia dos Namorados. Só faltava o Kenny G tocando saxofone pro cenário ficar completo.

- Duzentos gramas de presunto, por favor.

O cara deve ter pensado: eu tenho cara de balança ambulante movida a pilha?

Pra minha sorte, ou não, outro atendente já tinha cortado fatias de presunto e sabia mais ou menos o preço. Sei lá há quanto tempo esse presunto estava lá. Já estava com uma coloração esverdeada. Fazer o quê, a fome é o melhor tempero! Levei o verdinho e seis pães.

Antes de irmos pra casa, resolvemos tomar um chope. Eu tinha esperança que a luz iria voltar em pouco tempo. Afinal, eram 14 andares até o apartamento.

De novo, a minha lerdeza prevaleceu.

- Dois chopes, no capricho! – disse, fazendo aquele sinal que você faz um círculo com o polegar e o indicador (capricho, não acredito que falei isso!).

A máquina de chope não estava funcionando por falta de energia. Nessas horas percebemos como somos escravos da eletricidade.

- Traz cerveja, então!

Um trio de gringas estava sentada do nosso lado. Deu 5 minutos e o André deu com a língua nos dentes. Elas eram da Irlanda e estavam adorando o Brasil, mas já estavam pedindo a conta. Como prefiro morenas, fiquei na minha.

Em outra mesa, dois homens estavam rindo da situação. Bêbado ri de qualquer coisa. Descobrimos que eles eram de Brasília também. A conversa parecia normal, até a hora que um deles disse que se chamava Johnson (o cara era uma mistura de Bob Marley com Predador, mas fiquei imaginando aqueles bebês da propaganda do Johnson’s Baby).

Enfim, terminamos a segunda cerveja. Já havia passado uma hora e nada da luz voltar. André pegou o ônibus pra Botafogo, enquanto 12.523 degraus me esperavam, no escuro!

Imaginei nessa hora quantas pessoas ficaram presas no elevador. O que às vezes pode ser até bom. Não ia ser de todo mal você ficar preso com aquela vizinha gostosa que anda sempre de shortinho e você sempre quis ficar com ela. Por outro lado, imagina se está tendo reforma no prédio e você tá descendo com todos os pedreiros no elevador, depois de um dia “suado” de trabalho.

Pensando bem, os milhões de degraus me pareciam ótimos! Mas eles não acabavam... No começo, com a ajuda da luz do celular, eu tava até animado. Mas depois do sétimo andar, a brincadeira perde a graça. Parecia que eu tava escalando o Monte Everest. Parava pra respirar a cada 20 degraus. Por sorte eu sempre carrego um tubo de oxigênio comigo (tá, isso é mentira!).

Depois de 29 minutos, cheguei no 14º andar! E a luz só voltou duas horas depois! Quem ficou preso com a vizinha se deu bem; com os pedreiros, nem tanto.