terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Memória de elefante


Às vezes penso que acontece só comigo. Como ser tão desatento a ponto de perguntar o nome de uma pessoa e, no segundo seguinte, não lembrar mais.

Por falta de interesse não é, pois se estou perguntando seu nome é porque algum interesse existe, mesmo que implícito. Acho que já deve ter acontecido com todos.

Na maioria das vezes acontece com homens. Não porque a memória não vai bem, mas por seu instinto de querer conquistar a fêmea (nossa, essa frase tá ótima pro Discovery Channel!).

Imagina só: você vê uma mulher belíssima, pergunta seu nome, oferece um drinque, chama pra dançar e, quando você já sabe a vida inteira dela, indaga: qual é o nome dela mesmo?

Já aconteceu comigo:

- Tá cheia a festa, né?
- Nooossa, muito!

Era uma morena de olhos verdes, trajada de vestido longo esverdeado (adoro verde). Simplesmente linda.

- Qual seu nome?
- Luana, e o seu?
- Marcelo, prazer.

Já estávamos íntimos. Podia chamá-la de Lu, Lulu, Ana, Banana. Poderia fazer piadinhas com seu vestido abacate. Mas no meio da conversa quem disse que eu lembrava seu nome. As mulheres não sabem, mas os homens sofrem de Amnésia-Pós-Início-Conversa. Esta doença sempre existiu! Acho que as mulheres também sofrem dessa doença, só não admitem.

Pior ainda quando você conhece a pessoa há tempos, mas por infelicidade não lembra de jeito nenhum o nome da pessoa. Você lembra o nome da “parentada” toda (até daquela tia-avó que você viu uma única vez na praia, de maiô bege, com a pessoa).

- Oi, Marcelo. Quanto tempo?
- Oi... É mesmo, como você está?
- Estou ótima e você? Ana?
- Estou bem. Ana ficou em casa cuidando do Rafael, que está doente.
- E seus pais, Rogério e Luísa?
- Viajaram para a Europa semana passada. Sabe como é, liquidação em Paris!
- Marcelo, eu tenho que ir. Mas foi muito bom te ver! Tchau! Mande lembranças à família.
- Tchau...

O irônico é que, geralmente, logo após você lembra o nome da pessoa.

sábado, 27 de setembro de 2008

Trilhas

- Vamos fazer uma trilha, pegar uma cachoeira?
- Só se for agora!

Na hora todo mundo anima, mas na hora de ir mesmo, poucos vão. Desculpas não faltam. Ressaca, sono, frio, nublado, longe, pra que ir se posso ficar aqui dormindo (a mais usada).

Mas o Marconi tinha confirmado. Marconi é aquele amigo que enfrenta qualquer coisa.

- Vamos pro Afeganistão brincar de soldado?
- Tô acabando de fazer a mala, você viu minha escova de dente?

Então pegamos meu carro, um Celta, e fomos pra Cristalina/GO, atrás da Serra dos Topázios. Sempre tinha vontade de ir lá, pois dizem que o lugar é lindo. Após 100 km de estrada e com o mapinha na mão (quanta tecnologia, não?), começam as perguntas aos nativos.

- Você sabe onde fica a Serra dos Topázios?
- Serra dos o quê???
- Nada não.

Eu sempre me indignei com isso. Como a pessoa mora num lugar turístico e não sabe onde ficam as atrações. Um dia criarei um Centro de Treinamento de Apoio Turístico – CTAT (parece até nome de força-tarefa antiterrorista).

Depois de muitas informações, uma mais diferente que a outra: depois de dois galpões vira à esquerda; passa três quebra-molas e vira pra direita na estrada de terra. Para a Polícia Rodoviária a gente devia entrar 500 metros antes do posto, à direita na estrada de terra.

Não teve jeito. Tentamos todas as alternativas. Achamos até uma cachoeira, só que não era a Serra dos Topázios. A última alternativa foi a sugerida pela Polícia Rodoviária. Disseram que não tinha erro. São uns 5 km de estrada de terra e vocês chegam lá.

Lá fomos nós, cortando mato com o Celtinha. O rastro da estrada de chão começava a desaparecer no quarto quilômetro. Já tem mais mato do que estrada, mas continuo assim mesmo. Estava me sentindo em um safári na África.

Quando de repente:

- Shiiiiiichh!
- Puta merda, atolou!

Não, não era o funk! O carro tinha atolado num lamaçal da estrada. Era outubro e tinha chovido há alguns dias. O carro não saía de lá por nada. Nem com pedra, madeira, empurrão ou sopro.

Celular fora da área de serviço. Água estava acabando. Comida quente e acabando também. A água do radiador começava a ficar atraente àquela altura.

O jeito era voltar andando até o posto policial pra pedir ajuda. Mais de 4 km andando, num sol escaldante. A gente andava, andava, andava e o cenário nunca mudava. Nada pra lá, nada pra cá, só capim e mato.

Como bem disse o Marconi, a gente tava se sentindo o próprio bóia-fria. Sujos de lama, com sede, andando num sol escaldante de duas horas da tarde e, pra melhorar, sem água. Quando avistamos um cocho (lugar onde gado toma água), não tive dúvida em beber a água que tava pingando da mangueirinha.

Enfim chegamos ao posto policial. Liguei para o seguro, que foi resgatar meu carro atolado no meio do nada. Se a Serra dos Topázios é realmente linda? Só saberei quando comprar um jipe, pra não ter o perigo de atolar de novo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Dona Gertrudes


Gertrudes era mulher atarefada. Quando não estava resolvendo o problema dos outros, estava entretida com as atividades do lar.

- Amééélia, já tomou café da manhã? Você tem que ir pra escola!
- Ham?! Ainda não, mãe.
- Coma logo esse pão com mortadela.
- Mas eu não gosto.
- Prefere comer o sanduíche de queijo com pasta de jiló do seu Zé?
- Nossa, tá uma delícia! É mortadela importada?


Com o maridão a conversa não era muito diferente.

- Vágner, acho que está na hora de você cortar o cabelo, hein?
- Ah amor, é tanto trabalho no escritório que nem me lembro de cabelo.
- Sei! Mas de tomar o chopinho com os amigos no final do expediente você lembra, né?
- Aliás, você tá precisando perder essa barriguinha saliente, hein?! – diz Gertrudes, apontando para o inchaço abdominal do marido.

Hora do almoço (momento psicóloga)

- Zulmira, já cozinhou o feijão?
- Tá cozinhando dona Gertrudes, com toucinho de porco, do jeito que a senhora gosta.
- Hum! Zulmira, tô sentindo você meio tristinha. Aconteceu alguma coisa?
- Nada demais, meu marido caiu do 37º andar limpando a janela de um prediozão. Caiu em cima da minha filha que estava indo almoçar. Os dois morreram!
- Ah tá, toma maracujina que melhora!

Pelo período vespertino

- Tchau mãe, vou pra natação.
- Filho, já passou protetor solar?
- Ainda não mãe, passo lá.
- Conheço essa conversa. Tira a camisa pra eu passar em você.
- Relaxa mãe...
- Não discuta, câncer de pele é muito perigoso.

Dez horas da noite

- Amor, cheguei!
- Tava até agora no escritório, meu bem? – diz a esposa, segurando um rolo de macarrão na mão.
- Deu problema com um cliente, o chefe tava viajando, a luz acabou quando tava descendo de elevador. Foi uma correria só!
- Sei...
- Mas não vamos falar sobre isso. O que você acha de abrirmos um vinho e...
- Ah nem amor, tô cansada e com dor de cabeça. Amélia não queria tomar café da manhã, Zulmira perdeu o marido e a filha, o Breno não queria passar protetor. Cuidar da casa também cansa, viu?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Passatempo aéreo


Brasília-Rio. Vôo durante a hora do almoço. Todos enfurecidos por terem almoçado uma barra de cereal e um amendoim. Eu que não sou bobo, arrisquei.

- Senhor, aceita um lanche?
- Sim, um filé mignon com fritas, por favor.
- Só temos picanha e alcatra, serve? - disse o comissário de bordo, com olhar de palhaço.

Aquela frase extraiu todos os líquidos do meu corpo para a boca, num salivar insaciável. Pela brincadeira e pelo olhar de faminto, ele me trouxe três barras de cereal e dois amendoins. Pedi mais dois depois, pra tampar o buraco do dente. Se comparado a um churrasco, diria que comi uma picanha, um pouco de pão com alho e uma costelinha de porco. Tem que alimentar a imaginação pra matar a fome, né?

Tentei arriscar uma cervejinha para relaxar (dizem que potencializa o efeito em três vezes), mas só tinha suco, água e refrigerante. Parecia até festinha de criança. Só faltava a mesa de docinhos com cenário da Turma da Mônica.

Após uma hora e meia de vôo, com direito a banquete aéreo, chega a hora da aterrissagem.

Desembarque no aeroporto do Galeão/RJ. Hora de pegar as malas. Vejo uma linda menina com seu carrinho, tentando chegar à esteira para pegar as bagagens (repararam que toda história tem garotas).

- Você quer ajuda para pegar a mala.
- Quero sim, por favor. - disse a morena com sotaque não-carioca.

Nossa! Além de bonita é simpática. Seu nome era Ellen. Morava em Anápolis/GO e iria ficar em Copacabana, na casa de parentes. Já eu em Ipanema, parentes também. Combinamos praia no dia seguinte. Mas não rolou. Ela foi pra Búzios dois dias depois e nunca mais nos vimos, ainda!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Praia


Praia é o lugar mais democrático que existe no planeta. Dá de tudo um pouco. Crianças, casais, velhinhos, nativos, gringos, pessoas de todos os Estados, pobre, rico, vendedor de queijo, biscoito Globo e mate, artistas. Não importa quem você seja, todos podem ir à praia.

Todos disputando centímetros de areia com as inúmeras pessoas que já encontram-se acampadas na praia. A fim de pegar um sol, curtir o mar, jogar conversa fora, ou simplesmente pelo prazer de estar ali, naquele presente incrível da natureza.

Além disso, praia é lugar de comer besteira. Mas meu amigo André, com quem viajei para o Rio, bateu todos os recordes. Queijo coalho, açaí, sacolé do Claudinho, quibe, sanduíche de peito de peru, sempre acompanhado de mate natural misturado com limão. E mousse de brigadeiro, claro. O engraçado é que depois não sabe por que passa mal. Quem come o que quer, sente o que não quer. Quem ouve pensa que eu sou o cara mais natureba do mundo, né? Ledo engano.

Na verdade, sempre que vou à praia sinto-me da própria cidade, dependendo se o lugar tem gente bonita, obviamente. Pego bronzeado fácil. Com uma semana de praia já estão me chamando de Jamelão, da Mangueira.

Como acho que chinelo só serve para matar barata, vou descalço mesmo. Andei tanto descalço que eu nem sentia mais o calor da rua. A sola do pé ficou tão grossa que se eu pisar num prego com a ponta pra cima é capaz dele entortar.

No primeiro dia de praia, doidos para iniciar a comunicação com as cariocas, ficamos pedindo para todas as meninas bonitinhas darem uma olhada nas nossas coisas, enquanto íamos no mar.

Aliás, já falaram para eu fazer Comunicação ao invés de Direito. Uma vez em Pirenópolis, a cada cinco minutos estava conversando com um grupo diferente. A praça em frente à Igreja Matriz estava cheia de velhos-novos amigos.

Voltando à praia, na segunda intimada já sentei ao lado de uma garota que estava deitada na canga. Nem um pouco cara de pau. Péssima idéia. Além de desenvolver o papo mais louco que já tive sobre psycotrance, vibe e sei lá mais o quê, falou que seu ex-bofe trabalhava na barraca logo atrás.

Dei uma olhada discreta para trás e tremi na base. O cara era uma mistura de Silvester Stalone com King Kong. Por isso, decidimos apelidá-lo carinhosamente de Gorila. E o Gorila parecia cada dia mais forte, não parava de crescer. Toda vez que passava por ele estava comendo sua merendinha: 3 quilos de batata cozida, 12 ovos e 1 quilo de peito de frango.

Pronto, estava aberta a brecha. Todo dia a mulher vinha puxar papo comigo. Talvez para causar ciúmes, ou porque gostou de mim. Não me interessava o motivo. Tudo que queria era me livrar daquele papo doido e tirar o homem-bomba da minha cola.

Certo dia, no final da tarde, estava tocando a Banda de Ipanema em frente à Rua Vinícius de Moraes. Eu estava indo pegar uma cerveja na barraca do Joel, quando escuto uma voz feminina:

- Oi, tudo bem?
- Tudo, e você?
- Não poderia estar melhor. - respondi cinicamente.
- Você vai lá na banda? Se você for para lá, me chama que eu vou! - disse ela.

Demorei um pouco na resposta e pensei: Imagina se o Gorila vem atrás de mim! O vuco-vuco iria fazer Ipanema tremer.

- Ah, tá. Tenho que ir ali, vou pegar uma cerveja.

Saí em direção à barraca na velocidade da luz. Decidi sumir do mapa. Foi a coisa mais inteligente que fiz. Aproveitei a Banda de Ipanema sem terremotos para atrapalhar a festa.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Dia de concurso

Seis e dez da manhã. Toca o irritante alarme do celular. Seria muito melhor se saísse uma garota linda de dentro do celular e te acordasse com um beijinho. Bom, fazer o quê? Banho, barba, café, misto quente e rua.

Nas ruas, movimento total. Parece até que vai ter final de Copa do Mundo, entre Brasil e Argentina. Carro pra lá, táxi pra cá, pés correndo, todos com pressa e inquietos, claro.

Iria fazer a prova no Colégio Sigma, lugar razoavelmente tranqüilo para estacionar (se você é uma formiga e está dirigindo uma folha). Ruas engarrafadas, estacionamentos lotados, pra melhorar, olho para o relógio e restam vinte minutos para os portões fecharem. Começo a ficar ansioso.

Tchan, tchan, tchan, tchan! Terra à vista, literalmente. Pronto, estacionei no poeirão. Deve ser o espírito rallyzeiro que tenho dentro de mim. Não posso ver uma “laminha” que já quero me sujar. Churrasquinho de terra é ótimo para o organismo (meus amigos vão entender).

Entro na sala e adivinhem? Nunca vi tantos nomes bonitos reunidos numa sala tão pequena, devia ter uns 50 Marcelos só na minha sala. Sempre tive vontade de gritar nessas provas: Ô Marcelo! Todo mundo iria olhar com cara de tacho.

O curioso é que, embora a sala esteja cheia, ninguém está a fim de conversa. Todos são concorrentes, inimigos, atrás da tão sonhada vaga no serviço público. Só é possível escutar as cadeiras e carteiras arranhando o chão, a tosse de alguém que está resfriado ou até mesmo o balançar incessante do pé do nervoso concorrente ao seu lado.

Toca o sinal de início. Cinco horas de prova, 150 itens de V ou F e uma redação de até 30 linhas de sobremesa. Tem programão melhor para um domingo de sol de manhã? Não responda.

O cara que estava sentado a minha frente pediu para mudar de lugar. Disse que estava incomodado com o barulho de papel que vinha da minha direção, como se eu estivesse abrindo uma barra de cereal. Acontece que o único papel que tinha na minha mesa era a prova, e ela estava quietinha. Cada Marcelo com suas loucuras.

Após algum tempo, depois de beber uns dois litros de água (fazer prova dá sede), peço para ir ao banheiro. E solto para a simpática fiscal de prova Juliana:

— Deve ser um recorde, né?!? Terceira vez que vou ao banheiro.
— Que nada, tem um carinha que já foi bastante também.

Senti um clima de competição pairando no ar, até na quantidade de idas ao banheiro. Por precaução, fui mais duas vezes. Entreguei a prova após 4 horas e 45 minutos, para sair com o caderno de prova. Já estava com saudade do poeirão.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Brasília

Cruzamentos, esquinas, buzinas de carro, prédios arranha-céus. Soa como descrição de grandes capitais.

Nem todas. Pelo menos uma, das que eu conheço (tá bom que não são muitas), não possui nenhuma dessas características. Irão indagar: Nem buzina de carro? Pasmem, é raridade ouvir aquele som tão gostoso que invade as grandes cidades.

Há contudo árvores, muitas árvores. Algumas nativas, outras não. É tanto verde que se você procurar no “google” a palavra Brasília, aparecerá uma árvore bem verdinha (se não tiver na época de seca, claro).

Congresso Nacional. Presidente da República. Niemeyer e suas linhas arrojadas e limpas. São tantas caras que a capital do rock possui. Pleberude, Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso. Sem contar a urbanidade-anfitriã de acomodar políticos de todos os cantos do país. Não que isso seja vantagem.

Brasília tem gente de todo lugar. Atenção, todo lugar mesmo. Pense num Estado qualquer, aqui tem. Pense em um sotaque estranho, você vai ouvir alguém falando. Tem gente chimarrão, acarajé, garoa, queijinho, floresta, tem até olho puxado.

Quem não conhece a cidade, pensa que não tem o que se fazer. Afinal, que cidade chata né?! Discussões políticas, orçamentárias, judiciais, passeatas em frente ao Congresso.

Se espanta quem descobre que existe vida noturna em Brasília. Bares, bons restaurantes, pub's e boites. Uma terça no Gate's Pub, um quibe frito e um cerveja gelada no Libanus e um sambão no Calaf, são programas indispensáveis para aqueles que têm um certo preconceito com a cidade.

Outro dia conheci uma carioca, linda. Morena, cabelos castanhos longos, sorriso lindo. Estava em Brasília pois era aniversário de uma amiga. E ela me falou: Achava que Brasília não tinha nada pra fazer!

Há tantas coisas pra se falar dessa cidade que não vou comentar tudo hoje. Se tiver curiosidade, venha conhecer!